Final do curso Técnico Auxiliar de Farmácia
O curso Técnico Auxiliar de Farmácia, teve inicio a 13 de Janeiro de 2022 e termina em Março de 2023, jà com estágio feito. O estágio são 210 horas, de 2ª a 6ª, 7h diárias.
Eu como portador de deficiência visual, sou o pioneiro, num curso desta envergadura. Acabei de transitar do curso Técnico de Turismo Ambiente Rural para o curso Técnico Auxiliar de Farmácia. Só uns 3 a 4 meses depois, percebi que não iria ser fácil. Estava a começar a haver grupinhos, escolhas para trabalhos de grupo por amizades. Mas também, porque a falta de comunicação, entre a coordenação e mediação, era cada vez mais notada. Depois passam o tempo a alterar as cronologias e por vezes, abrem salas online em simultâneo com outras erradamente.
Este curso inclui trabalhos de grupo, tarefas individuais e acima de tudo, saber várias doenças, saber trabalhar em equipa e terem um bom relacionamento comunicacional. Ao longo do tempo, verificou-se que nem tudo podia correr bem. Estar online, para uma pessoa com baixa visão facilita, o que nunca iria funcionar em aulas presenciais. O que verifiquei foi que houve preconceito para comigo, pois nunca fui escolhido para trabalhos de grupo, era introduzido em tarefas em grupo, que as formadoras achavam que teria de ser.
Tenho o sido de facto o pioneiro. Nenhum deficiente frequentou um curso da área da saúde. Depois acabei por perceber que este curso não está vocacionado para virem a ter profissionais em farmácia, portadores de deficiência, porque não existem farmácias inclusivas. Tenho sido persistente e continuado neste curso de formação, mesmo sabendo que ele em nada me vai servir, mas mesmo assim, vou aprendendo muita coisa e até me conhecer melhor. Mas, quando temos de procurar estágios, a coisa começa a mudar de figura. O Iefp, tem protocolos com algumas farmácias, mas eles preferem que sejamos nós a procurar. Foi o que eu fiz. Sabendo que nas farmácias comunitárias não poderia fazer, pois não ficaria bem, estar a atender um cliente com a cabeça em cima do computador ou ir buscar um medicamento e meter quase a cara em cima da caixa, por exemplo. Por tanto, só poderia ser em farmácias hospitalares. Fui a alguns e apesar de alguns responderem que aceitavam estagiários de farmácia do iefp, verificaram que eu não poderia ser aceite.
O tempo foi passando e estamos cada vez mais perto do final. Nas aulas de Pra-Projeto Reflexão e Aprendizagem, o mediador, ia indicando muitas das normas para que se fizessemos o portfólio, o que era necesário colocar lá ou seja, uma biografia, as reflexões, o contrato e a grelha estágio. Cada Pra, para além de tudo o resto, servia para validar as ufcds, que se foram fechando. Depois, também servia para que o mediador ficasse sabendo das queixas de colegas, umas contra as outras e de algumas formadoras. De repente, parecia que estava numa escola secundária!
Estamos praticamente na reta final e posso dizer o quanto me arrependo e que esta turma e curso, não me deixarão saudades nenhumas.
Quando se trata de entrevistas de emprego nestas áreas, parece que os deficientes só servem para telefonistas. Foi o que me aconteceu na última entrevista no hospital Polido Valente para a categoria de Assistente Operacional para o serviço de Internamento, concluiu-se que não servia por ter um resíduo visual baixo. Depois, achavam que era melhor se calhar ir para uma cozinha, copa pois não tem como foco a visão. Pareceu-me que há uma certa descriminação para com os que têm baixa visão. Eu sempre achei, que podia contrariar essa situação, por isso sou ator de tv, cinema e teatro e sempre consegui fazer o que me era proposto.
Os deficientes têm todo o direito de provarem que são mais do que se vê. De fazerem coisas que aos olhos da sociedade, os possam indignar, de fcarem perplexos ou de terem pena, mas somos seres humanos, que sonham e por isso queremos relizá-los. Da minha parte vou conseguir contrariar essa ideia de que só conseguimos ser uma determinada coisa.
#rogeriorosa