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A Gazeta do Repórter

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Rogério Rosa no Programa "A Nossa Tarde" da RTP 1-Tempo Contado!

30.06.24 | Rogério Rosa

fotode Anossa tarde-rtp.jpg

O dia 28 de Junho, teve um significado que pode marcar outra volta na vida de muitos deficientes. Muito faltou por dizer, uma vez que o tempo de entrevista na em televisão, não é o nosso tempo.

 o que foi ali contado em 15 minutos, foi o mais resumido de uma história de vida e de superação. Eram precisos 30 minutos para acrescentar coisas muito importantes, tais como: como foi possível e como descobri a alteração do nome de José Carlos para Rogério. Depois ao ter assistido a um rapto de um amigo que me acompanhava e como os pais dele receberam a notícia ou ter assumido o cargo público de Juiz Social do Tribunal de Família e Menores, este ano por 2 anos. Falei do Judo,como praticante no Judo Clube de Portugal, sem contudo ter mensionado o Mestre Luis Figueiredo e do Nuno, que nos recebe de braços abertos e sempre disponíveis. Falei de facto do projeto da Câmara Municipal de Lisboa, chamado Projeto 55 esa1+, que resulta da promoção do envelhecimento ativo em colaboração com a Universidade Sénior e que no Judo Clube de Portugal, recebeu algumas idosas, que quiseram experimentar, gostaram e que continuam alegres e satisfeitas. Ali,aprendem alguns golpes, exercícios de projeção e acima de tudo, aprenderem a cair. Todos sabemos que os idosos não sabem cair ou não têm reflexos nas quedas e muitas delas são mortais. Ali, podem prevenir a morte ao cairem. 

O projeto "envelhecimento ativo", resulta num processo de fazer sair de casa idosos, que vivem isolados e deprimidos e sem vontade de fazer vida social. Muitos aparecem mortos em casa, muitas vezes semanas depois. Por vezes são os vizinhos, que na ausência de os verem, alertam as autoridades. Daqui se pode depreender, que tem de existir um trabalho multidisciplinar e psicossocial nas Juntas de Freguesias e dos pelouros da Ação Social, que visam identificar e sinalizar estes casos.

Dar oportunidades desportivas e culturais a pessoas com mais de 65 anos, que muitas vezes vivem no passado e lá querem teimosamente permanecer. Não aceitam evolução, nem concordam com muitas das coisas que se tornaram úteis, que no passado não existiam. A falta de adaptação ou a falta de motivação, fazem com que seja mais complexo o seu desprendimento. Aqui as Juntas de Freguesia fazem um trabalho de proximidade e de integração cultural e educativo nas suas Universidades Séniores. Elas servem para que possam acolher todos aqueles/as, com mais de 55 anos, que queiram evoluir, aprender e ocuparem-se. Sentirem-se vivos/as e úteis e ao mesmo tempo socializarem, uns com os outros na capacidade de retardarem o alzheimer como doença do foro cognitivo. É nesta perspetiva de apoio psicossocial, que o Judo Clube de Portugal, abraçou e acolhe ajudando nesse sentido. Pessoas que ali estão, como o Mestre Luis Figueiredo e o Nuno, que se desponibilizam a ensinar. Obviamente, não sendo obrigatório, mas ao assinar-se uma folha de inscrição, assinamos um compromisso de frequentar e de respeitar, quem está disponivel para nós. O facto de não se pagar diretamente, sendo custeado pela Câmara Municipal de Lisboa, há certamnete uma grelha de assíduidade, que têm de fazer chegar á Câmara para que esta, continue a apostar no Projeto 55 + no Judo Inclusivo.

No meu caso, quando falei dos cursos, obviamente não tive tempo de falar dos curso de Língua Chinesa e de Língua Gestual Portuguesa, que tão importantes são. Referi o curso Técnico Auxiliar de Saúde, que iria fazer estágio no Hospital Curry Cabral no Bloco Operatório. Fui rejeitado logo no mesmo dia de inicio por ter baixa visão. O mesmo veio a acontecer no final do curso Técnico Auxiliar de Farmácia, mas aqui, nem iniciou, fui logo rejeitado a todas as farmácias comunitárias e hospitalares. Como não há sensibilidade, nem farmácias inclusivas, logo fiquei com "menino morto nos braços".

Fiquei no entanto com pena de não ter havido tempo para falar no que realmente faltou dizer. Tanto que faltou dizer! Faltou dizer como descobri a troca de José Carlos por Rogério. Faltou dizer, que aos 15 anos assisti á minha frente de um rapto de um rapaz que ia comigo e do que eu tive de transpirar ao voltar para trás e de ter de contar aos pais dele. Depois, faltou falar do dia em que cheguei ao Quartel de Bombeiros para me apresentar ao Comandante. Acabando por ser aceite e lá fiquei por 3 anos.

Falei superficialmente da minha aventura como sem-abrigo, que fui pedir ajuda á Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, depois da minha família se ter recusado a ajudar-me, tinha eu 18 anos, como não trabalhava e era deficiente visual, ninguém me deu a mão. Fui sempre tratado e serei tratado como "adoptado" dentro da família biológica. Faltou falar de quando fui para a Colónia Balnear Infantil "O Século", onde estive 3 meses e não recebi visita de ninguém com a exceção da minha avó e uma tia, que a acompanhou. Lá conheci um rapaz chamado João Luís, que por acaso era meu vizinho sem ter dado por isso, por vezes partilhava comigo bolachas ou bolos, que os pais lhe levavam. Soube muitos anos depois pela mãe dele, que falecera aos 14 anos. Faltou falar de quando a minha progenitora me disse que "tenho vergonha de andar contigo na rua. És um filho indesejado", tinha eu 13 anos e ainda hoje, quando passo pelo sitio, onde me disse isso, me vem á memória. 

Faltou falar que entrei em 2 faculdades, a primeira no Instituto Superior de Ciências Educativas, para frequentar a Licenctura em Educação Social. Um estágio na Casa Pia, muito mal orientado. No segundo semestre, fui transferido a meu pedido para a Universidade Lusófona, que seria para a mesma Licenciatura, mas esta acabou por não iniciar e acabei por frequentar Serviço Social. Durante o tempo que frequentei, não tive qualquer apoio, ajuda de docentes e de colegas, que nunca me escolhiam para trabalhos de grupo. Era de facto cada um por si. Fui colocado como estagiário na Acapo, instituição de Cegos, onde nem sequer a própria orientadora de estágio, tinha interesse no meu estágio e me colocou na biblioteca em vez de assistir aos atendimentos e ou reunir para partilha de ideias. Muitas vezes me perguntava, como podem elas, as colegas em ajudarem pessoas que nunca viram na vida e não o fazerem ao colega de carteira? Não esmoreci, permaneci e fui passando de ano na mesma sem ajudas.

Seria de facto um programa inteiramente só meu, se tivesse o tempo suficiente para dizer a maior parte do que pretendia. Mas, na última parte, falei nos cursos e nos estágios, que me foram recusados por ter baixa visão. Mas, faltaram os de Língua Chinesa e de Língua Gestual Portuguesa, talvez porque eram de curta duração. 

No Judo Clube de Portugal, faltou agradecer o desempenho do Mestre Luis Filipe Figueiredo, homem disponível e de braços abertos para nos receber todas as semanas, ás 3as e 6as, entre as 9h30 e as 10h30. Por vezes junta-se outro mestre o Nuno Abreu, que o apoia. Todos os exercícios são adaptados aos praticantes maiores de 60 anos. O mais novo sou eu e a mais velha, tem 80 anos. O Projeto 55 +, como disse no programa, é da Câmara Municipal de Lisboa com as Juntas de Freguesiase com a colaboração das Universidades Séniores, neste caso de Campolide.

Outra falha que existiu foi o Sonho. Teimam na tv, legendarem no rodapé dos programas, que o meu sonho é ser Ator. Não! Não é, o meu sonho é manter-me ator. Não seria agora aos 60, que iria ter esse sonho, tanto mais, que publicamente me estreei em 1984 no FESTIVAL DA MALTA-84

Participei em 7 novelas, 6 séries e 21 filmes. O que acontece é que em televisão, não acreditam que tenha capacidade em desempenhar papeis sérios de responsabilidade e no cinema, nunca me deram figurações. Fiz 3 cursos de formação de atores e um de direção de atores na Academia Nicolau Breyner, que fui marginalizado em alguns cursos que fiz lá, entre eles, Realização e Produção do Audiovisual, Escrita Narrativa Visual, o Argumento e Direção de Atores. Fiquei um pouco chocado, pois não fizeram qualquer esforço em me apoiar, incentivar, acolher, conversar, etc. É natural, que quando dou entrevistas e não me vêm atuar em televisão, acham que se trata de um sonho. Pesquisem no google Ator Rogério Rosa, está lá tudo! Ser ator, nunca foi um sonho, aconteceu por mero acaso, aliás, no inicio nem sequer gostava de representar!

 

Marco.jpg

Esta foto, é a personagem "Marco", com que me estreei no "Festival da Malta-84". A peça chamava-se "Marco, um Produto de Esgoto da Cidade", baseada na minha experiência de sem-abrigo, que vivera o ano antes.

No entanto, sem esquecer que no curso Técnico Auxiliar de Farmácia, um formador, que por acaso era Psicológo e mal soube da minha deficiência visual, em plena sessão com todos os meus colegas, perguntou, então o que eu estaria ali a fazer se não via para trabalhar na Farmácia? Podia optar por uma de 2 atitudes minhas ou o denunciava e ele era afastado ou ignorava e passava á frente e foi a atitude que achei melhor. Tolera-se a ignorantes ou pobres de espirito, mas a alguém com uma formação que tem mais do que o dever, o direito de compreender e ser sensível, não se pode aceitar.

Na vida fui aprendendo a superar-me a mim mesmo. Fui procurando valores através de pessoas, que me iam acrescentando princípios, valores e até nos escuteiros, fui aprendendo a partilha, o amor ao próximo, a solidariedade e a entreajuda, ainda que tenha sido tratado com grande indiferença nos agrupamentos por onde passei, sejam CNE e AEP.

Uma das boas coisas que sempre tive, foi ser sempre o meu melhor no que fazia e nunca desistir. O caminho faz-se caminhando e um dos lemas que Mário Soares deixou foi "Só é Vencido quem deixar de Lutar" e nunca se deve ter pena de nós próprios, segundo uma frase que li no livro  "Ação...!" de Maria Henrique, atriz e encenadora "Drama, é um estilo de representação e não um modo de estar na vida". https://l.facebook.com/l.php?u=https%3A%2F%2Fwww.instagram.com%2Freel%2FC7iDbzVqoke%2F&h=AT0RZkCw13rvO8ICrHcaBJGVf2zqOAOGlqx8gk-6KhV-LnLSFWyteM-s6tMVqpDmh95hkZcghdp_BO1BK2QBfTf1uWTLS780umx8OsXGCGjZwCy_Y6RfZadqXy4nkp7yttqO&s=1

https://www.rtp.pt/play/p12651/e779639/a-nossa-tarde

Entretanto, escrevi 3 contos, que foram publicados em 3 antologias de várioas autores. O meu último conto chamado "Casal Corona e Covid", escrito no tempo de Pandemia e será publicado nas Edições Notag neste mês de Julho. No entanto, estou a escrever uma história mais longa, a minha, que vai ter o mesmo nome da peça com que me estreei, e será o "Marco", que a vai contar.

Por não conseguir em televisão o tempo necessário para falar, ainda que por tópicos, aqui alarguei o que faltava, não sem antes de terminar com algo tão insólito quando inacreditável, num velório a avó pega no neto morto ao colo, fazendo cair ela e o morto e mais não acrescento. Se foi verdade ou não, foi-me contado pelo próprio pai.

Deixo aquia mensagem a todos os que se sentirem sós, saiam de casa, socializem, vivam, aproveitem o tempo para comunicar, fazerem exercícios físicos, caminhadas, e aprendam cursos nas universidades séniores, onde estão pessoas dispostas a ensinar. Juntem-se a outras pessoas, a coletividade ou associações de reformados que fazem passeios pelas Junta de Freguesia e não deixem de pedir ajuda se necessário. Não se prendam a um passado, que já não volta mais. O presente ainda trás muitas coisas que podem e devem fazer. O isolamento só agrava a saúde e acelera para um alzheimer descontrolado e depois, é tarde demais!

Eu vou continuar no Judo e terminar o curso Técnico Apoio Psicossocial, talvez ter estágio e voltar á faculdade, porque uma licenciatura, vale por qualquer curso de formação profissional, nem que seja para complementar e se isso me vier a dar um emprego depois do estágio, tanto melhor.

programa que anunciava a minha ida.jpg

E foi com esta foto, que fui anunciado!

Fim

#programaanossatarde

Rogério Rosa 

 

 

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